Os afastamentos do trabalho por transtornos mentais atingiram um recorde histórico em 2024, evidenciando uma crise de saúde mental no ambiente corporativo brasileiro. Dados recentes do Ministério da Previdência Social revelam que 472.328 trabalhadores precisaram se afastar devido a transtornos como ansiedade, depressão e estresse severo, um aumento de 68% em relação a 2023. A maioria são mulheres e a média de tempo de afastamento de 3 meses.

Principais Motivos de Afastamento:

  • Transtornos ansiosos: 141.414 casos;
  • Episódios depressivos: 113.604 casos;
  • Transtorno depressivo recorrente: 52.627 casos;
  • Dependência de substâncias psicoativas (álcool e drogas): 39.841 casos;
  • Reações ao estresse grave e transtornos de adaptação: 20.873 casos.

Os Impactos para as Empresas

O adoecimento mental e os afastamentos geram impactos expressivos no ambiente corporativo, afetando produtividade, clima organizacional e custos financeiros.

  • Produtividade: A ausência de colaboradores por longos períodos sobrecarrega as equipes, reduz a qualidade do trabalho e compromete prazos.
  • Clima Organizacional: A falta de iniciativas voltadas à saúde mental pode gerar desconfiança, desmotivação e aumento da rotatividade.
  • Custos Financeiros: Além dos gastos diretos com licenças médicas, há custos indiretos com turnover, recrutamento e treinamento de novos profissionais.

Mesmo entre aqueles que continuam trabalhando, a saúde mental fragilizada pode levar a quedas de produtividade, dificuldades de concentração, maior incidência de erros e aumento do absenteísmo.

Atenção às Novidades na Legislação Trabalhista

Diante da crise de saúde mental, a legislação trabalhista tem buscado proteger a saúde dos trabalhadores. Destaco duas mudanças recentes que exigem maior atenção das empresas: a atualização da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT) e a nova versão da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1).

Uma portaria do Ministério da Saúde, publicada no final de 2023, incluiu transtornos mentais como burnout, ansiedade, depressão e tentativa de suicídio na LDRT. Isso significa que trabalhadores diagnosticados com essas condições passam a ter direito à estabilidade de 12 meses no emprego após a alta médica, caso seja comprovada a relação entre a doença e o trabalho.

Além disso, a partir de 26 de maio de 2025, entra em vigor a atualização da NR-1, que obriga as empresas a avaliar e gerenciar os riscos psicossociais à saúde mental no ambiente de trabalho. Isso inclui a identificação e mitigação de diversos fatores como sobrecarga de trabalho, assédio, falta de clareza nas funções e ausência de suporte emocional. A nova regulamentação reforça a necessidade de ações concretas para garantir um ambiente de trabalho mais seguro e saudável. 

Como as Empresas Podem Atuar?

Para promover e proteger a saúde mental dos colaboradores, as empresas podem implementar ações práticas e acessíveis. Algumas sugestões incluem:

Iniciativa Descrição
1. Rastreio da Saúde Mental Realizar check-ups emocionais regulares com orientações personalizadas, por meio de questionários anônimos.
2. Programas de Educação Emocional Promover treinamentos, palestras e podcasts sobre saúde mental e gerenciamento do estresse.
3. Treinamento de Lideranças Capacitar gestores para identificar sinais de sofrimento emocional e atuar de forma empática.
4. Cultura de Feedback Positivo Incentivar o reconhecimento de esforços e conquistas, promovendo um ambiente de apoio.
5. Clima Organizacional Saudável Promover um ambiente de trabalho seguro e respeitoso. Garantir um ambiente de trabalho que minimize os riscos psicossociais.
6. Reuniões Curtas e Eficientes Reduzir o tempo das reuniões e torná-las mais objetivas para evitar sobrecarga.
7. Flexibilização e Equilíbrio Oferecer opções como flexibilidade de horário, home office, pausas programadas e respeito à jornada de trabalho.
8. Incentivo à Desconexão Digital Estimular a desconexão após o expediente para preservar a vida pessoal.
9. Espaços de Descanso Criar áreas de descompressão para relaxamento e bem-estar.
10. Canal de Apoio Psicológico Disponibilizar suporte psicológico acessível para prevenir agravamento de sintomas.

Conclusão

O recorde de afastamentos por transtornos mentais exige uma mudança de postura no mundo corporativo. Não basta apenas reagir quando um colaborador já está afastado; é fundamental adotar estratégias preventivas, promover educação emocional e criar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo para todos. Com iniciativas simples e eficazes, as empresas podem minimizar impactos financeiros, melhorar a qualidade de vida dos colaboradores e fortalecer sua cultura organizacional.

Rosalina Moura é Psicóloga Clínica, Organizacional e Coach. Sócia-fundadora da Rumo Saudável, empresa que atua no segmento de bem-estar, saúde mental  e gerenciamento do estresse em organizações. É um das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Redes. Foto: Divulgação.