Vivemos em um tempo em que os discursos sobre diversidade, inclusão e bem-estar se multiplicam. No entanto, na prática organizacional, ainda vemos muitas lideranças operando a partir de uma lógica antiga: homogênea, hierárquica e voltada para resultados de curto prazo.

É como se muitas lideranças ainda estivessem “dentro da caixa”, reagindo com padrões automáticos, defendendo o status quo e resistindo ao desconforto que mudanças profundas inevitavelmente provocam. 

Mas, afinal, o que significa sair da caixa?

É um convite a abandonar a previsibilidade e o controle absoluto. É reconhecer os próprios vieses inconscientes, questionar as normas silenciosas que regem as relações no trabalho e criar espaços seguros onde vozes diferentes possam realmente ser ouvidas — e não apenas toleradas. 

Diversidade sem escuta é apenas aparência

A verdadeira diversidade começa na escuta ativa e empática. É quando líderes deixam de procurar apenas quem “se encaixa na cultura” e começam a valorizar o que desafia e amplia essa mesma cultura. Pessoas com trajetórias não convencionais, perspectivas de mundos distintos, histórias de vida improváveis — essas são fontes riquíssimas de inovação e humanidade.

Segundo Verna Myers, autora de “Moving Diversity Forward”, “diversidade é ser convidado para a festa; inclusão é ser chamado para dançar”. Essa metáfora simples revela a profundidade da questão: não basta ter pessoas diferentes à mesa — é preciso que elas se sintam autorizadas a participar das decisões, a discordar, a inovar. 

Ambientes saudáveis não são espontâneos

Engana-se quem pensa que ambientes emocionalmente saudáveis surgem naturalmente. Eles são construídos com intencionalidade. E as lideranças têm papel central nisso.

É preciso construir relações baseadas na confiança, no respeito às vulnerabilidades e na valorização da autenticidade. Isso significa combater microagressões, estabelecer rituais de cuidado, promover equilíbrio entre vida e trabalho e, principalmente, liderar pelo exemplo.

O psicólogo Daniel Goleman, em “Inteligência Emocional”, reforça que líderes emocionalmente inteligentes são os que mais inspiram segurança psicológica, base para a colaboração, inovação e saúde mental no trabalho. 

Exemplos inspiradores

Microsoft: A gigante da tecnologia reformulou seu modelo de liderança com base em empatia e inclusão. Satya Nadella, CEO da empresa, afirma que a empatia é a competência central do futuro — algo que só pode ser desenvolvido se o líder estiver disposto a sair de si para ouvir o outro (ver Hit Refresh, Nadella, 2017).

Magazine Luiza: Pioneira em ações afirmativas no Brasil, a empresa lançou programas de trainee exclusivamente para pessoas negras, enfrentando críticas e mostrando que equidade exige decisões corajosas. A CEO Luiza Helena Trajano defende que “a liderança precisa assumir seu papel social e entender o poder transformador que tem nas mãos”. 

Três atitudes para sair da caixa

Praticar o autoquestionamento constante:

  • “Quais os meus filtros?”
  • “O que me incomoda e por quê?”
  • “Estou promovendo inclusão ou exigindo adaptação silenciosa?” 

Dar lugar às vozes diferentes:

  • Criar espaços reais de escuta: reuniões com rodízio de fala, grupos de afinidade com autonomia, canais de feedback com confiança.
  • Implementar reverse mentoring: líderes aprendendo com pessoas mais jovens ou de grupos diversos. 

Colocar saúde emocional na pauta estratégica:

  • Promover treinamentos em inteligência emocional, conversas difíceis e empatia.
  • Desenvolver indicadores de saúde mental que não estejam apenas atrelados a absenteísmo, mas à qualidade das relações. 

Um novo pacto de liderança

As organizações que prosperarão neste século serão aquelas cujas lideranças forem capazes de sair da caixa — não apenas para pensar diferente, mas para sentir diferente, agir diferente, escolher diferente. Diversidade e saúde organizacional não são metas a serem atingidas, mas caminhos a serem trilhados, todos os dias.

Essa jornada começa dentro de cada liderança. E ela exige, acima de tudo, coragem para mudar a si mesmo antes de tentar mudar os outros.

Profa. Dra. Fátima Motta, Sócia-Diretora da FM Consultores. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação. 

Consciência Emocional é o maior desafio para os humanos seres que somos. É ela que nos diferencia dos animais e, pela dificuldade de construí-la, talvez seja o que gera maior problema nos relacionamentos, sejam eles profissionais ou pessoais.

As palestras, programas, treinamentos e mentorias que desenvolvemos têm sempre como objetivo fornecer ferramentas, metodologias e caminhos, para que você possa lidar com suas emoções de forma a gerenciá-las, criando e mantendo relacionamentos saudáveis, bem como tomando decisões acertadas.

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Referências bibliográficas

Goleman, D. Inteligência Emocional. Editora Objetiva, 1995.

Myers, V. Moving Diversity Forward: How to Go from Well-Meaning to Well-Doing. American Bar Association, 2011.

Nadella, S. Hit Refresh. Harper Business, 2017.

Edmondson, A. A Empresa Sem Medo. HSM/Harvard Business Review, 2019.

Kegan, R. & Lahey, L. Andar de Canoagem no Meio do Escritório. HBR, 2016