Nas últimas duas décadas, o mercado de trabalho passou por transformações profundas. No início dos anos 2000, enquanto o mundo ainda se adaptava à digitalização em massa, o foco das empresas estava voltado, principalmente, para as soft skills, como empatia, comunicação, trabalho em equipe e liderança. É claro que esses atributos continuam sendo extremamente valiosos para o ambiente corporativo, mas agora precisam ser complementados com as hard skills digitais.

Segundo levantamento do LinkedIn, 10% dos profissionais contratados em 2024 ocupavam cargos que nem sequer existiam há vinte anos, como cientista de dados, gerente de sustentabilidade e engenheiro de inteligência artificial, e até 2030 a expectativa é de que as competências exigidas pelo mercado mudem em 75%. De acordo com uma pesquisa da Locaweb, 50% dos brasileiros já desistiram de um projeto ou oportunidade profissional porque não tinham as habilidades digitais necessárias para o cargo.

Dados como esses mostram que, com a consolidação da tecnologia como motor central da economia, e, mais recentemente, com o avanço das IAs, automação e análise de dados, as habilidades interpessoais, por si só, já não são suficientes para garantir a relevância de um profissional. O ambiente de negócios de hoje busca por um novo perfil: alguém que una sensibilidade humana com aptidão tecnológica.

A pandemia acelerou essa curva de transformação, e foi nesse período que ferramentas digitais deixaram de funcionar como um suporte para se tornarem o principal meio de realizar reuniões, vendas, operações e decisões estratégicas. Esse cenário, somado à criação do ChatGPT e consequente popularização da IA, foi, pouco a pouco, deixando claro que os profissionais que antes eram considerados completos por sua capacidade de se comunicar bem ou liderar times, agora também precisariam interpretar dados, interagir com plataformas digitais e compreender minimamente o funcionamento de sistemas baseados em IA. Ainda segundo dados do LinkedIn, 66% dos profissionais dizem sentir uma pressão crescente para auxiliar suas companhias a enfrentar essas mudanças.

Porém, vale ressaltar que não se trata de uma substituição das soft skills, mas sim de uma evolução. A nova demanda do mercado exige que competências técnicas necessariamente caminhem lado a lado das habilidades comportamentais. Na prática, estamos observando as hard skills digitais se tornarem a base sobre a qual as soft skills podem se desenvolver e gerar mais impacto.

O estudo “Futuro do Trabalho”, publicado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF) em parceria com o Núcleo de Inovação, Inteligência Artificial e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC), aponta para mudanças no perfil do trabalhador, que está evoluindo em resposta às novas demandas do mercado corporativo: 65% dos trabalhadores consideram a requalificação, assim como a busca por novas competências, como essencial para manter sua relevância e empregabilidade. Além disso, 78% procuram oportunidades de treinamento oferecidas por seus empregadores para melhorar suas habilidades.

Nesse sentido, o que estamos vendo é uma priorização pelo desenvolvimento de conhecimentos tecnológicos, principalmente daqueles relacionados à inteligência artificial, Big Data, e segurança cibernética. Hoje, organizações inovadoras buscam pessoas com olhar estratégico e crítico, mas que também saibam operar ferramentas como ChatGPT, Power BI, Notion, CRMs automatizados ou plataformas de integração digital. Já chegamos ao ponto em que contar com essas competências deixou de ser um diferencial e passou a ser pré-requisito. Além disso, o uso de agentes de IA para atividades repetitivas tem ganhado espaço como forma de aliviar a sobrecarga operacional, permitindo que os profissionais direcionem seu tempo para tarefas mais analíticas, criativas e estratégicas.

Por isso, acredito que cultivar uma mentalidade de aprendizado contínuo é mais do que essencial. Enquanto melhoramos nossa escuta ativa, empatia e liderança, também precisamos atualizar nossas habilidades técnicas e investir em capacitação digital. Empresas com visão de futuro têm compreendido que essa junção traz o verdadeiro diferencial competitivo e gera inovação real, acelera resultados e constrói equipes preparadas para os desafios que estão por vir.

Gustavo Caetano é fundador da Samba, especialista em soluções digitais simples, inteligentes e eficazes que impactam significativamente os resultados, proporcionam vantagens competitivas e perpetuam com maturidade os clientes no mercado. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.