Quem disse que produtividade tem hora marcada? Essa lógica rígida que moldou o “horário comercial” não se sustenta mais — e para as mães, então, ela nunca fez sentido. Para nós, flexibilidade de horário não é um privilégio; é estratégia. É o que permite conciliar entregas, ideias e filhos. E fazer tudo isso com a cabeça no lugar e o coração inteiro.
É curioso observar como o debate sobre modelos de trabalho e produtividade vem ganhando espaço, mas ainda de forma tímida quando o recorte é a maternidade. A pesquisa Tendências de RH 2025, realizada pela Koru, revela que praticamente metade dos executivos de Recursos Humanos defende a manutenção ou adoção do modelo híbrido. Mas hesita sobre seus efeitos na produtividade: apenas 23% consideram que ela aumenta, enquanto 28% acham que tende a cair.
O dado revela mais sobre nossa dificuldade de repensar velhos paradigmas do que sobre a eficácia do modelo. Para muitas mães, o trabalho híbrido ou flexível não é só confortável, é o que viabiliza permanecer no mercado. Deixemos as métricas convencionais de lado por um instante. Produtividade não deveria ser medida pela presença física ou pela quantidade de horas conectadas. Cada pessoa tem seu pico de energia. Algumas rendem cedo, outras são as rainhas da madrugada. Flexibilidade permite que usemos esse tempo com sabedoria, e não com culpa.
Além disso, ambientes dinâmicos e rotinas não lineares estimulam a criatividade. Soluções nascem justamente quando a mente tem liberdade para operar fora do convencional. E mães sabem fazer isso como ninguém: mudam, improvisam, priorizam. É a febre que chega, o choro pelo brinquedo perdido, o dever de casa que precisa de uma “mãozinha”, a próxima história que vai convencer o pequeno a comer verduras. A rotina de quem concilia trabalho e filhos exige adaptação constante, resiliência, e isso se torna um diferencial competitivo.
Outro ponto fundamental é a saúde mental. O mesmo levantamento da Koru mostra que apenas 36,6% das empresas contam com um programa formal de apoio psicológico para os colaboradores. Outras 25,6% oferecem suporte informal, enquanto 22% afirmam que planejam implementar algum tipo de programa. E se considerarmos que 15,9% sequer oferecem qualquer tipo de suporte, a urgência do tema fica evidente. Maternidade sem suporte emocional dentro do ambiente corporativo é sinônimo de sobrecarga silenciosa.
Por isso, quando defendo a flexibilidade como estratégia de produtividade, estou falando sobre um ambiente de trabalho mais inteligente, adaptável e humano. Um modelo que reconhece que a vida não cabe em janelas de horários fixos e que a inovação mora na liberdade de criação, inclusive de horário. Porque, no fim, não se trata de escolher entre uma carreira de sucesso e qualidade de vida. Trata-se de fazer com que as duas coisas coexistam. E mães, com sua capacidade de equilibrar tudo isso, são prova viva de que é possível.
Raissa Florence é cofundadora e diretora de Growth da Koru. Com uma carreira dinâmica e especialização em princípios da liderança na Harvard University. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.