Fênix: renascimento e imortalidade transportando um livro que é conhecimento e história. Montagem de Jorgete Lemos.

Parte I – Onde está o poder?

O conceito de poder é social e simbólico. Quem o detém e como ele é construído e sustentado nas instituições, culturas, narrativas e estruturas?

O poder não é neutro: ele se ergue sobre estruturas históricas de exclusão, nas quais o privilégio é muitas vezes confundido, equivocadamente, com mérito.

O poder não é apenas força institucional ou cargo de chefia. É estrutura, é história, é cultura. O poder se expressa em quem tem voz e em quem é silenciado, em quem decide e em quem obedece, em quem é visto como referência e em quem é reduzido à exceção. É por isso que, mesmo quando não há gritos, o silêncio, por si só, fala.

O poder está nas entrelinhas — e, muitas vezes, no que não se diz.

Prof. Milton Santos

Poder é um conceito social porque ele se manifesta nas relações entre indivíduos e grupos, influenciando suas ações e comportamentos.

Poder é uma relação de poder, e não algo que se possui, e a sua compreensão é essencial para a análise de uma sociedade.

Nossas relações foram historicamente construídas sob a predominância masculina, de cor branca, eurocêntrica; guiada pelos valores do ocidente europeu, tanto éticos quanto estéticos. 

Parte II – Na construção do poder, o privilégio é um pilar invisível

Privilégios são vantagens herdadas, não conquistadas pelo indivíduo, e que nem sempre são percebidas por quem as usufruem.

Privilégios geram ativos ou passivos sociais em decorrência da cor da pele, classe social, gênero, origem geográfica, escolaridade, identidade de gênero, orientação sexual, idade e tantas outras características.

Por trás de muitas relações sociais está o privilégio: um conjunto de vantagens que não foram escolhidas, mas herdadas. Não porque alguém pediu, mas porque o sistema assim construiu.

Ter acesso à educação de qualidade, circular sem ser questionado, ser escutado antes de julgado, criminalizado, são situações privilegiadas que sequer são percebidas pelo privilegiado, mas que marcam profundamente quem não tem tais privilégios.

 Parte III – O medo: quando o saber ameaça o poder

O saber e o empoderamento dos excluídos representam risco à hegemonia dominante.

Quando as pessoas de grupos minorizados tem acesso ao saber, elas passam a questionar com fundamentação e não mais com o grito há muito aprisionado. Essas pessoas, quando letradas, ocupam e transformam realidades.

Sintam a força de uma mulher como Angela Davis. Agora, imaginem o que isso representaria em nosso país, onde se estima que existam 45.689.075 mulheres negras com 16 anos ou mais.

É neste cenário que o medo surge. Medo de perder o poder. O medo de ver o outro (PCD, Mulher, Pessoa LGBTQIA+ , Pessoa 60+) historicamente silenciado, ocupar espaços de fala, de saber, de influência.

Quando um determinado canal de televisão aberta começou a desenvolver estratégias de proporcionalidade racial em seus programas, muitas pessoas ficaram “chocadas, revoltadas, intrigadas”, mas o tempo está demonstrando que precisamos de transição e não de mudanças disruptivas para abordar temas tão “sofisticados”

 Parte IV – O ódio como reação à ameaça

O ódio surge como reação defensiva de quem teme perder o controle, reagindo com ações tais como as de ataques à diversidade, negação de políticas de inclusão, banalização do termo, “mimimi”.

É o medo disfarçado de convicção. É o grito de quem sente que seu domínio está sendo contestado. O avanço da diversidade provoca reações tais como banalização, ironia, ataques diretos.

Quanto mais se fala em equidade, mais se ouvem discursos apoiados na frase: “esse mundo está ficando chato…”

Quanto mais avançarmos com a inclusão, menor será o domínio dos discursos extremistas, polarizadores e negacionistas.

 

Parte V – “Fênixação” : marginalizados construindo a partir das cinzas

Há uma força silenciosa em movimento. Enquanto os privilegiados buscam se manter apoiados em um Pacto silencioso da Branquitude, a “fênixação” segue em andamento.

O epistemicídio de negros, periféricos, indígenas, LGBTQIA+, mulheres, pessoas com deficiência, está sendo revirado trazendo à tona, a partir das cinzas de uma exclusão histórica, a verdadeira história das coisas.

Grupos minorizados, por meio do conhecimento, estão criando arte, fundando Coletivos, reinventando economias, rompendo os muros da academia, da mídia, da política.

A reconstrução não virá do topo. Ela virá da margem.

Ela nasce onde houve “queimadura social” e é por isso que é forte. Ela vem com outras vozes, outras formas de liderança, outros sentidos de justiça.

Chegamos a um ponto em que precisamos nos perguntar: que tipo de poder queremos manter e qual estamos dispostos a compartilhar?

Diversidade não ameaça: ela amplia. Equidade não divide: ela reequilibra.

O ódio não vence. Ele adia soluções boas para todos, todas, todes.

Entre as ruínas do velho poder, a fênix da reconstrução já está em voo.

A reconstrução é coletiva e propõe novas formas de poder: compartilhado, horizontal, plural.

Por Jorgete Lemos, CEO da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria Organizacional. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.