Uma revisão a ser publicada na revista Epidemiologic Reviews, escrita por pesquisadores da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, aborda a questão do burnout, particularmente entre os profissionais de saúde.

Ressaltam inicialmente a importância de distinguir o burnout do estresse comum, pois ele sempre está relacionado com o trabalho decorrente de um estresse crônico e não gerenciado. Lembram os estudos seminais de Christine Maslach, que caracteriza o burnout como envolvendo exaustão, cinismo/distanciamento e baixa eficácia profissional.

Ele traz impactos relevantes à saúde das pessoas e impactos para as organizações, como queda na qualidade dos serviços, maior rotatividade, mais acidentes e riscos à segurança dos pacientes.

Os autores destacam três obstáculos principais que levam à persistência do problema:

  1. Simplificação excessiva – aborda-se o burnout como uma questão individual e são oferecidas soluções individuais (massagens, aulas de ioga, treinamentos de resiliência), ignorando as causas estruturais;
  2. Incentivos desalinhados – as pressões por produtividade conflitam com o bem-estar dos trabalhadores;
  3. Conformismo com o status quo – as mudanças sistêmicas são evitadas para não gerar crises que forcem a ação.

Podemos resumir as causas de burnout em 3 grupos:

(a) fatores psicossociais – desequilíbrio entre vida pessoal e profissional, carga emocional com situações adversas na vida, fadiga e stress;

(b) fatores organizacionais – sobrecarga, falta de pessoal, jornadas longas e irregulares, falta de pausas adequadas, burocracia, cultura punitiva, pouco suporte da liderança;

(c) fatores ambientais – ruído, iluminação inadequada, riscos físicos, falta de acesso a cuidados de saúde, discriminação, problemas financeiros.

Finalmente, sugerem reconhecer o problema, avaliar o seu impacto na organização e buscar as mudanças necessárias. Além disso, promover uma comunicação empática com os trabalhadores, com transparência e evitar soluções pontuais e superficiais. Importante pensar de forma abrangente, buscando alinhar missão, prática e culturas organizacionais ao bem-estar dos trabalhadores, evitando ações isoladas e pontuais, implementar mudanças estruturais e atuar nos fatores psicossociais, organizacionais e ambientais.

Em nosso meio, a abordagem muitas vezes é focada nas questões de regulação como a questão dos fatores psicossociais na Norma Regulamentadora n.o 1. No entanto, além de cumprir regulamentos é importante ter uma visão mais ampla e estrutural e conhecer as causas-raiz e abordá-las de maneira integral, a partir da liderança da organização.

Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.