Sabidamente, uma das maiores verbas do planejamento financeiro de qualquer empresa é a folha de pagamentos, cujo aumento é olhado sob lupa pelos administradores. Por outro lado, temos os trabalhadores, principalmente em cargos de menor expressão, cujos salário precisam ser esticados para cobrir as despesas do mês; entre eles, o RH, para manter um elevado clima organizacional e engajamento da força de trabalho, além de manter o custo da mão de obra dentro do orçamento, uma árdua tarefa diante da realidade econômica do Brasil.
A gestão salarial se fundamenta nos índices econômicos, no caso, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que mede a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços a partir da perspectiva das famílias de baixa renda, que têm rendimento médio de 1 a 5 salários-mínimos.
O Governo Federal utiliza o INPC como índice oficial para orientar os reajustes do salário-mínimo nacional, os reajustes salariais em negociações trabalhistas, correções monetárias em débitos judiciais e os reajustes das aposentadorias e benefícios pagos pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Os resultados do INPC revelam que no Brasil, em 2024, houve um aumento de 4,17%, zero em janeiro de 2025 (!), e 1,48% em fevereiro. Todavia, esses índices não refletem o encarecimento real da cesta básica nos últimos tempos. Conforme a CNN, a cesta básica aumentou 14,2% em 2024, e nos dois primeiros meses de 2025, cerca de 6%.
Segundo a Agência Brasil, a cesta básica mais cara do país no mês de fevereiro foi a de São Paulo, com custo médio de R$ 860,53. Em seguida, estão as cestas do Rio de Janeiro (R$ 814,90), Florianópolis (R$ 807,71) e Campo Grande (R$ 773,95). Já nas regiões Norte e Nordeste do país, onde a composição da cesta é diferente, os menores valores foram registrados em Aracaju (R$ 580,45), Recife (R$ 625,33) e Salvador (R$ 628,80).
A comparação do custo da cesta, entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025, mostrou que 15 capitais tiveram alta de preço, com destaque para as variações das cidades do Nordeste: Fortaleza (13,28%), João Pessoa (10,52%), Natal (10,14%), Recife (8,76%) e Aracaju (8,13%). Duas cidades apresentaram taxas negativas: Porto Alegre (-2,59%) e Belo Horizonte (-1,00%). Em São Paulo, o aumento foi de 10,55%, conforme o Dieese.
Como conciliar os salários com a realidade do custo de vida?
Respondendo a pergunta acima, se possível, manter os preços, e as margens do negócio em moeda mais estável (normalmente US$), mesmo para empresas nacionais. O dólar em 2 de janeiro de 2024 valia R$4,891, e em 2 de janeiro de 2025 R$6,208, um pico fora da curva. Se tomarmos por base R$5,80, teremos um aumento de 18,6%. Mesmo que os salários tenham tido 10% de aumento em Reais em 2024, ainda haveria uma perda de 7,3 pontos percentuais em moeda estável. Aumentando mais 5%, ainda estaria 2.6 pontos percentuais abaixo!
Se não for possível atualizar os preços, e as margens em dólares, a empresa deve corrigir seus preços pelo menos na mesma percentagem de aumento de seus custos e despesas, o que resultaria num crescimento próximo do custo de vida, podendo assim aumentar os salários nesse mesmo nível.
Em paralelo, buscar por meio de gestão eficaz, aumentar a produtividade per capita, para justificar aumentos de salários mais próximos do aumento de custo de vida real.
Ressalto a necessidade do RH possuir capacitação econômico-financeira para elaborar análises e administrar os salário de forma mais propicia, mantendo um bom nível de satisfação dos colaboradores, e se preciso, dialogar corretamente junto a administração geral da empresa.
Vicente Graceffi, consultor em desenvolvimento pessoal e organizacional. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.