O dilema do work-life balance: como empresas podem ajudar seus funcionários a equilibrar vida e trabalho?

A privação de sono não afeta apenas o bem-estar individual, mas também a eficiência das empresas. No mês do sono, cresce a preocupação com os impactos da privação de descanso na produtividade, na saúde dos profissionais e no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho (work-life balance).

Não ter um sono adequado afeta tanto o bem-estar individual quanto a eficiência das empresas. Funcionários que dormem mal tendem a apresentar queda no desempenho, maior irritabilidade e dificuldade em tomar decisões. A longo prazo, isso pode gerar afastamentos por doenças relacionadas ao estresse e até mesmo desligamentos, aumentando os custos para as companhias.

Um estudo da ResMed, divulgado em 2024, revelou que o Brasil está entre os quatro países com a maior média de duração do sono, registrando 7,1 horas por noite. Os outros três países no ranking são Hong Kong, Índia e Tailândia. A pesquisa envolveu 36 mil pessoas em 17 países.

Impactos do sono na saúde e no work-life balance

Apesar disso, os brasileiros se destacam como os mais insatisfeitos com a qualidade do sono, dormindo, em média, 1h25 a menos do que as 8 horas recomendadas. Ainda segundo o estudo da ResMed, 38% dos entrevistados no Brasil já buscaram ajuda profissional para dificuldades relacionadas ao sono, e 10% foram testados e diagnosticados com algum distúrbio.

O sono adequado está diretamente ligado à capacidade cognitiva, criatividade e resiliência emocional dos profissionais. Empresas que negligenciam essa questão podem enfrentar altos índices de absenteísmo, redução no engajamento e dificuldades na retenção de talentos. Além disso, o impacto do estresse crônico no organismo pode levar ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, transtornos de ansiedade e depressão, criando um ciclo prejudicial tanto para os funcionários quanto para as empresas.

Outro fator importante é a influência geracional nesse cenário. As novas gerações, especialmente os millennials e a geração Z, têm valorizado cada vez mais o equilíbrio entre vida e trabalho (work-life balance), priorizando limites claros para evitar a sobrecarga.

No entanto, paradoxalmente, muitos desses profissionais enfrentam dificuldades para manter uma rotina de sono adequada devido ao uso excessivo de telas antes de dormir, especialmente redes sociais e aplicativos de mensagens. Esse comportamento reduz a qualidade do descanso e pode comprometer a performance no dia seguinte, reforçando um ciclo de cansaço constante.

Em 2023, o Brasil registrou 421 afastamentos do trabalho devido ao burnout, o maior número da última década, de acordo com dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), vinculado ao Ministério da Previdência Social. O crescimento foi impulsionado, sobretudo, pela pandemia de coronavírus. Em 2019, o país contabilizava 178 afastamentos por burnout, número que saltou para 421 em 2023, representando um aumento de 136%.

5 dicas de como as empresas podem promover um equilíbrio saudável

1. Flexibilidade no trabalho

Modelos híbridos, horários flexíveis e a adoção de uma cultura de respeito ao tempo livre são fundamentais. Empresas que incentivam um ambiente de trabalho mais adaptável permitem que seus colaboradores gerenciem melhor suas rotinas, promovendo qualidade de vida e maior engajamento profissional.

O conceito de flexibilidade no trabalho vai além do home office. Ele envolve também a autonomia para que os funcionários possam estruturar sua carga horária de acordo com seus picos de produtividade e necessidades pessoais. Algumas organizações têm implementado semanas de trabalho reduzidas, oferecendo mais tempo para o descanso sem comprometer os resultados. Estudos mostram que essa abordagem pode aumentar a eficiência e reduzir significativamente os níveis de estresse.

2. Políticas de bem-estar corporativo

Oferecer programas de suporte à saúde mental, como terapia, mindfulness e pausas programadas, ajuda a reduzir os efeitos do estresse. Além disso, benefícios como academias, aulas de meditação e incentivos à prática de exercícios físicos contribuem diretamente para a qualidade do sono dos colaboradores.

Outra prática que tem ganhado força é a disponibilização de espaços de relaxamento dentro das empresas. Salas de descanso, áreas verdes e até mesmo ambientes equipados para cochilos curtos (power naps) podem fazer uma grande diferença na recuperação energética dos funcionários ao longo do expediente.

Empresas inovadoras já perceberam que investir em bem-estar não é um custo, mas um diferencial estratégico que impacta diretamente a produtividade e satisfação dos colaboradores.

Além disso, a cultura corporativa de um país também influencia a forma como os trabalhadores encaram o equilíbrio entre vida e trabalho. Em países como Japão e Coreia do Sul, por exemplo, longas jornadas de trabalho ainda são culturalmente aceitas, mesmo que tragam impactos negativos para a saúde. Já em países nórdicos, políticas de carga horária reduzida são mais comuns e amplamente incentivadas.

Empresas globais precisam considerar essas diferenças para criar estratégias de bem-estar que façam sentido dentro de cada contexto cultural.

3. Combate ao esgotamento profissional

Revisar a carga de trabalho, evitar jornadas excessivas e criar espaços para diálogos abertos sobre saúde mental são medidas essenciais. Empresas que incentivam momentos de desconexão – como a proibição de e-mails fora do expediente – promovem um ambiente mais saudável e produtivo.

Além disso, líderes desempenham um papel fundamental na prevenção do burnout. Gestores que promovem um ambiente psicológico seguro, demonstram empatia e incentivam um equilíbrio saudável entre vida e trabalho que são essenciais para construir uma cultura organizacional sustentável.

Treinamentos voltados para a gestão humanizada podem preparar líderes para identificar sinais precoces de esgotamento e agir de maneira proativa no suporte aos seus times.

Investir em políticas de equilíbrio entre vida e trabalho não é apenas um diferencial competitivo, mas uma necessidade para garantir equipes saudáveis e engajadas. No mês do sono, vale a reflexão: “sua empresa está ajudando seus colaboradores a descansarem melhor?”. Pequenas mudanças podem gerar grandes impactos no bem-estar e na produtividade.

A tendência é que, cada vez mais, os profissionais priorizem oportunidades que respeitem sua qualidade de vida. Empresas que adotam boas práticas nessa área não apenas melhoram a retenção de talentos, mas também constroem uma imagem positiva no mercado. Portanto, o work-life balance deve ser encarado como um investimento estratégico, capaz de gerar resultados sustentáveis e fortalecer a cultura organizacional.

work-life balance_foto da autora

Por Luciane Rabello, especialista em expatriados e RH.

 

 



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